domingo, 16 de maio de 2010

A importância da atenção para a aprendizagem

O estudo da atenção tem despertado a curiosidade de inúmeros pesquisadores há mais de um século. A atenção de uma maneira abrangente pode ser definida como o processo que direciona, seleciona, alerta, delibera, contempla (The Random House Thesaurus, 1987). Segundo Abernethy (1993), atenção é um termo global utilizado para definir vários processos que variam da concentração à vigilância.
A busca de melhores explicações para o fenômeno da atenção direcionou pesquisadores à concentrarem seus esforços em favor da criação de teorias, as quais consideravam a atenção como um mecanismo tipo filtro. A hipótese geral era que o mecanismo da atenção possuía uma capacidade fixa para processar informações e cada vez que esta capacidade fosse ultrapassada pelos requerimentos da tarefa, o “desempenho” decairia (Kahneman, 1963). Assim, no início a atenção era vista como um canal único (filtro) (Broadbent, 1958; Wellford, 1952), surgindo a seguir a hipótese dos canais múltiplos (Deutsch & Deutsch, 1963; Treisman, 1960, 1964, 1969; Keele, 1973). Mais recentemente, a atenção passou a ser vista como um processo automático versus controlado (Posner & Snyder, 1975; Schneider, Dumais & Shiffrin, 1984; Schneider & Fisk, 1982; Schneider & Shiffrin, 1977; Shiffrin & Dumais, 1981; Shiffrin & Schneider, 1977).
A hipótese de um único filtro ou canal indicava que todos os processos requeriam atenção e somente uma operação de estímulo - resposta poderia ser executada de cada vez (Welford, 1952), ou o que Broadbent (1958) definiu como o processamento serial de informações. Esta idéia foi contestada mais tarde por diversos pesquisadores, entre eles Deutsch & Deutsch (1963), Treisman (1960, 1964, 1969) e Keele (1973), os quais demonstraram que os indivíduos eram capazes de lidar com mais de um estímulo de cada vez. A teoria da “atenuação” de Treisman por exemplo, utilizou-se de experimentos em que mensagens gravadas de características coerentes e incoerentes eram transmitidas através de um fone de ouvido, passando do ouvido esquerdo para o direito e vice versa. A autora concluiu que os indivíduos foram capazes de “seguir” as mensagens coerentes, independentemente da mudança de ouvido, sugerindo que as mensagens incoerentes eram atenuadas, mas não desapareciam. A mensagem era enfraquecida (atenuada) quando não tinha
relevância à tarefa, sendo que os indivíduos utilizavam-se do conteúdo das mensagens para selecioná-las e decidirem entre os tópicos relevantes e irrelevantes.
A grande diferença entre estas teorias é a localização do filtro, ou seja, enquanto Broadbent (1958) e Welford (1952) colocaram o filtro no início do processo de seleção, Treisman (1960, 1964, 1969), Deutsch & Deutsch (1963) e Keele (1973), propuseram que o filtro se encontrava mais além dentro desse processo que seleciona as informações. Porém, todos estes autores concordam que o estímulo antes do filtro é livre de atenção, sendo processado em paralelo (simultaneamente) e quando atinge o filtro, passa a ser processado de maneira serial (individualmente), exigindo atenção. Entretanto, nenhuma destas teorias obtiveram sucesso em apontar com precisão o local do filtro. Abernethy (1993) por outro lado, menciona que a posição do filtro varia de acordo com o tipo de atividade realizada, podendo existir vários filtros, dependendo das combinações da tarefa e as estratégias utilizadas pelos indivíduos. Apesar de não haver concordância entre os autores previamente mencionados quanto a localização do filtro, eles concordam que a atenção possui duas características marcantes: 1) capacidade limitada; 2) processa a informação de maneira seriada.
Abernethy (1993), Anderson (1990), Broadbent (1958), Cherry (1953), Kahneman (1973), Magill (1989), Schmidt (1988), Treisman (1960, 1964, 1969), Schneider & Shiffrin (1977), Shiffrin (1989), Shiffrin & Schneider (1977), Shiffrin & Dumais (1981), Schneider, Dumais & Shiffrin (1984) definem capacidade limitada como sendo a dificuldade do indivíduo em atender diversos estímulos ao mesmo tempo. Kahneman (1973) vai além, concluindo que atividades diferentes impõem diferentes demandas nesta capacidade limitada da atenção e que quando ocorre um desequilíbrio entre a capacidade da atenção e a demanda, a “performance” deteriorar se- á consideravelmente. Este fato foi comprovado nos experimentos de tarefas simultâneas (“dual task”), onde os sujeitos tiveram dificuldades em realizar as duas atividades com a mesma precisão, sem que ocorresse uma queda de rendimento em uma das tarefas. Os resultados demonstraram uma troca, quando a tarefa “A” recebia mais atenção, a “performance” da tarefa “B” deteriorava e vice versa.
Entretanto, se caso uma destas tarefas estiverem automatizadas pelo sujeito, a quantidade de atenção necessária será menor, facilitando a realização de tarefas simultâneas. Para exemplificar esta situação, retornamos ao exemplo da criança que está aprendendo a driblar uma bola de basquete, citado anteriormente. Após uma quantidade considerável de prática, ela consegue, ao mesmo tempo, driblar a bola e observar a posição dos companheiros e dos adversários em uma partida. A distribuição da atenção, durante a realização de atividades paralelas, pode variar em função da complexidade da tarefa (Shiffrin, 1989), as instruções fornecidas ao indivíduo e o seu nível de habilidade (Ivry, 1996). Anderson (1990), investigando habilidades altamente sofisticadas, concluiu que as demandas no processo de atenção diminuem quando o indivíduo atinge uma fase autônoma. O autor, aliado aos resultados previamente obtidos por Shiffrin (1989) concluiu que existe uma relação negativa entre a prática e os requerimentos da atenção, suportando também a idéia da transição entre os estágios da aprendizagem.

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